Entre o discurso solidário e a prática capitalista

Torcida do Atlético Nacional homenageia a Chapecoense (Foto: Luiz Acosta /AFP)

Logo após a tragédia com a equipe da Chapecoense, diversas mensagens e ideias de apoio surgiram. Clubes se propondo a doar jogadores de graça, alterar o regulamento da CBF para liberar a equipe catarinense do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, doar a arrecadação da última rodada do Brasileirão, entre outros planos. Tudo muito bonito no discurso, mas quero ver na prática. Minha desconfiança tem o Brasil de Pelotas como exemplo.

Quando aconteceu o acidente de ônibus com a equipe do Brasil de Pelotas, diversos clubes tiveram as mesmas ideias, mas na prática não aconteceu. Os poucos jogadores emprestados não tinha condições de jogar e o clube não teve chances, acabou rebaixado no Campeonato Gaúcho.

É fácil e bonito ser solidário na hora da tragédia. Quero ver depois, quando tudo estiver mais calmo. Quero ver quais jogadores os clubes brasileiros emprestarão para a Chapecoense. Não adianta mandar jovens de 18 anos para ganhar experiência. A equipe catarinense já tem um elenco sub-20. Se for para emprestar, que seja aquele jogador com condições para vestir a camisa e entrar em campo. Se cada clube ceder aquele jogador experiente sem espaço ou que a torcida não gosta, já seria um bom começo.

Pegamos a dupla Gre-Nal como exemplo. O Grêmio poderia emprestar o Henrique Almeida e o Fred. O Internacional poderia emprestar o Ariel e o Brenner. Se pesquisar, em cada clube da série A encontraremos alguém sobrando, com condições de formar o futuro time da Chapecoense. Mas quero ver o clube ceder esses jogadores de graça, com o consentimento dos empresários.

E por favor, não vamos falar em Ronaldinho Gaúcho e Adriano Imperador. Esses são ex-jogadores, sem condições para disputar um campeonato. Sobre o Riquelme, não encontrei nenhuma notícia que confirme a história dele jogar de graça por seis meses.

Outra ideia muito bonita é liberar nos próximos três anos a Chapecoense de ser rebaixada. O discurso é de aplaudir, quero ver na prática. Quero ver se os clubes aceitarão a hipótese de cair para séria B, com todas suas consequências, por solidariedade a equipe catarinense. Pela ideia sugerida, a equipe que ficar em 16° lugar será rebaixada caso a Chapecoense fique entre os quatro últimos, o famoso Z4. Na hora do aperto, o que mais vejo é o “cada um por sí”.

Para confirmar meu pessimismo, a CBF insiste em realizar o último jogo da Chapecoense pelo Brasileirão, mesmo que esse jogo não interfira em nada a tabela do campeonato. O presidente da CBF Marco Polo Del Nero fala em realizar uma “grade festa”? PQP. Como assim “festa”? Como querem uma “festa” nesse momento? E com quais jogadores querem que a Chapecoense entre em campo?

Felizmente, ainda tenho esperanças. O Presidente do Atlético Mineiro Daniel Nepomuceno já avisou a CBF que o Galo não entrará em campo. Aceitou perder por W.O. para a Chapecoense. E, entre todas as promessas pós-tragédia, a única que acredito que vai se confirmar é o pedido do Atlético Nacional para a Conmebol declarar a Chapecoense como campeã da Copa Sul-Americana. Um clube estrangeiro sendo mais solidário que os brasileiros.

Não apenas a solidariedade do clube Atlético Nacional da Colômbia, mas também da sua torcida. O que a torcida fez nesta quarta-feira no estádio em Medellín não tem como descrever sem se emocionar. Infelizmente, não consigo imaginar algo assim acontecer no Brasil. Espero que o tempo prove que estou errado.

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